Dicas de Leitura

Livros recomendados pelo professor Wilson (Língua Portuguesa):

Ensino Médio (Vestibular)
DOM CASMURRO
Autor: Machado de Assis
Machado de Assis (1839-1908), escrevendo Dom Casmurro, produziu um dos maiores livros da literatura universal. Mas criando Capitu, a espantosa menina de "olhos oblíquos e dissimulados", de "olhos de ressaca", Machado nos legou um incrível mistério, um mistério até hoje indecifrado. Há quase cem anos os estudiosos e especialistas o esmiuçam, o analisam sob todos os aspectos. Em vão. Embora o autor se tenha dado ao trabalho de distribuir pelo caminho todas as pistas para quem quisesse decifrar o enigma, ninguém ainda o desvendou. A alma de Capitu é, na verdade, um labirinto sem saída, um labirinto que Machado também já explorara em personagens como Virgília (Memórias Póstumas de Brás Cubas) e Sofia (Quincas Borba), personagens construídas a partir da ambigüidade psicológica, como Jorge Luis Borges gostaria de ter inventado.



O CORTIÇO
Autor: Aluísio de Azevedo
Os tipos humanos e o dia-a-dia de um cortiço no final do século XIX. Obra máxima de Aluísio Azevedo, este romance representa a maturidade de um escritor preocupado em registrar e analisar à luz da ciência os males da sociedade brasileira. Texto integral enriquecido com notas explicativas.




Ensino Médio
O ALQUIMISTA
Autor: Paulo Coelho
"Quando escrevi 'O Alquimista', tentava entender um pouco a razão de nossa existência. Ao invés de fazer um tratado filosófico, resolvi conversar com a criança que existia em minha alma. Para minha surpresa, esta criança ainda estava viva em milhões de pessoas no mundo inteiro - o livro foi traduzido em 62 línguas e publicado em mais de 150 países. Com esta nova edição, quero compartilhar com mais leitores as perguntas que, justamente por não terem resposta, fazem da vida uma grande aventura". - Paulo Coelho.

À partir de 8ª série / 9º ano
AMOR DE PERDIÇÃO
Autor: Camilo Castelo Branco
A redação dessa obra, sua maior novela passional, foi inspirada em suas desventuras - sempre envolvido em casos amorosos complicados - e na peça Romeu e Julieta, de Shakespeare. Com a publicação da obra em 1862, Castelo Branco alcança grande popularidade.


Ensino Fundamental
MONTEIRO LOBATO (Todas as suas obras)
Autor: Monteiro Lobato

FÁBULAS DE LA FONTAINE
Autor: La Fontaine
As fábulas são narrativas curtas, de fundo didático, que sempre se encerram com alguma lição de moral ou ensinamento útil. Sempre utilizam de animais falantes e elementos naturais para representar alegoricamente as virtudes, traços de caráter e vicissitudes do homem.

ZEZINHO, O DONO DA PORQUINHA PRETA
Autor: Jair Vitória
O amor de Zezinho por sua porquinha é tão grande que, quando seu pai quer vendê-la, o menino faz de tudo para evitar a separação.



POLLYANNA (Vol. 1 e 2)
Autor: Eleanor H. Porter
O título refere-se à protagonista, Pollyanna Whittier, uma jovem órfã que vai viver em Beldingsville, Vermont com sua única tia viva, tia Polly. A filosofia de vida de Pollyanna é centrada no que ela chama "o Jogo do Contente", uma atitude otimista que aprendeu com o pai. Esse jogo consiste em encontrar algo para se estar contente, em qualquer situação por que passemos. Isso se originou com um incidente num Natal, quando Pollyanna, que estava achando que ia ganhar uma linda boneca, acabou recebendo um par de muletas. Imediatamente o pai de Pollyanna aplicou o jogo, dizendo a ela para ver somente o lado bom dos acontecimentos — nesse caso, ficar contente porque "nós não precisamos delas!".
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Livro recomendado pelo professor Edson (Filosofia):
O MUNDO DE SOFIA
Autor: Jostein Gaarder
(Tradução: João Azenha Júnior)
Às vésperas de seu aniversário de quinze anos, Sofia Amundsen começa a receber bilhetes e cartões postais bastante estranhos. Os bilhetes são anônimos e perguntam a Sofia quem é ela e de onde vem o mundo em que vivemos. Os postais foram mandados do Líbano, por um major desconhecido, para alguém chamada Hilde Knag, jovem que Sofia igualmente desconhece. O mistério dos bilhetes e dos postais é o ponto de partida deste fascinante romance, que vem conquistando milhões de leitores em todos os países em que foi lançado. De capítulo em capítulo, de "lição" em "lição", o leitor é convidado a trilhar toda a história da filosofia ocidental - dos pré-socráticos aos pós-modernos -, ao mesmo tempo em que se vê envolvido por um intrigante thriller que toma um rumo surpreendente.
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Livros recomendados pela professora Regina (Língua Portuguesa):
LAÇOS ETERNOS
Autor: Zíbia Gasperetto
 Romance psicografado por Zí­bia a partir do espí­rito Lucius. A vida usa a reencarnação para nos mostrar que o amor é a força motriz da vida fundindo-se no Todo, em laços indestrutíveis pela eternidade.

CONTOS E CRÔNICAS
Autor: Vários Autores
Coleção: Para gostar de ler

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Livro recomendado (a partir da 7ª Série/8º Ano) pela professora Rita (Matemática):
O HOMEM QUE CALCULAVA
Autor: Malba Tahan
 O Homem que Calculava: aventuras de um singular calculista persa é um romance infanto-juvenil do escritor brasileiro Malba Tahan (heterônimo do professor Júlio César de Mello e Souza), que narra as aventuras e proezas matemáticas do calculista persa Beremiz Samir na Bagdá do século XIII. Foi publicado pela primeira vez em 1939 e já chegou a sua 75ª edição.

A narrativa, dentro da paisagem do mundo islâmico medieval, trata das peripécias matemáticas do protagonista, que resolve e explica, de modo extraordinário, diversos problemas, quebra-cabeças e curiosidades da matemática. Inclui, ainda, lendas e histórias pitorescas, como, por exemplo, a lenda da origem do jogo de xadrez e a história da filósofa e matemática Hipátia de Alexandria. Sem ser um livro didático, tem, contudo, uma forte tonalidade moralista.
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Livros recomendado pelo Mediador Wesley:
RAÍZES DO BRASIL
Autor: Sérgio Buarque de Holanda
Uma das obras fundadoras da moderna historiografia e das ciências sociais brasileiras. O livro pontua algumas das mazelas de nossa vida social, política e afetiva, entre elas a incapacidade secular para separar o espaço público do privado.

1822
Autor: Laurentino Gomes
Como um homem sábio, uma princesa triste e um escocês louco por dinheiro ajudaram D. Pedro a criar o Brasil, um país que tinha tudo para dar errado.

1822 é um livro escrito por Laurentino Gomes, o mesmo autor de 1808, editado, no Rio de Janeiro, pela Editora Nova Fronteira. A ortografia utilizada corresponde ao Formulário Ortográfico de 1943.
O livro foi publicado em Portugal pela Porto Editora com um título diferente: 1822 – Como um homem sábio, uma princesa triste e um escocês louco por dinheiro ajudaram D. Pedro a criar o Brasil – um país que tinha tudo para não resultar. A edição portuguesa sofreu igualmente alterações na sintaxe e ortografia (Acordo Ortográfico de 1945).

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Livro recomendado pela professora Valdinéia (LEM):
A CABANA DO PAI TOMÁS
Autor: Harriet Stowe
Best-seller por mais de meio século, o livro traça a emocionante história do Pai Tomás, velho e bondoso escravo negro, e os sofrimentos passados por ele e seus companheiros comoveram o povo americano. Pouco a pouco, os ideais libertários foram sendo despertados na população, e logo o país entrou em guerra civil, que culminou com a reunificação dos Estados Unidos e a libertação dos escravos.

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Livros recomendados pelo professor Emanuel:
FELIZ ANO VELHO
Autor: Marcelo Rubens Paiva
Publicado originalmente em 1982, este livro é um relato do acidente que deixou Marcelo Ruben Paiva tetraplégico, poucos dias antes do Natal de 1979. Jovem paulista de classe média alta, vida boa, muitas namoradas, ele vê sua vida se transformar num pesadelo em questão de segundos. Durante um passeio com um grupo de amigos, Marcelo resolve dar um mergulho no lago. Meio metro de profundidade. Uma vértebra quebrada. O corpo não responde. Começa ali, naquele mergulho, a história de 'Feliz Ano Velho'. Apesar do tema trágico, 'Feliz Ano Velho' tem momentos de humor, ternura e erotismo. Marcelo se encarrega de colocar em palavras a relação de amor e respeito à mãe, o carinho das irmãs, a camaradagem e o encorajamento da turma, as festas e fantasias sexuais.


                                  O NOME DO JOGO
                                                Autor: Will Eisner

Transpondo a primeira metade de 1900, O NOME DO JOGO é uma história que atravessa três gerações de poder e privilégio obtidos através dos conflitos do casamento.
É uma fábula moderna que envolve três famílias, os Arnheim, os Ober e os Kayn, todos descendentes de imigrantes judeus, e a sua luta por status.
Enquanto o rico busca assegurar o futuro da família através do casamento e herdeiros, os menos afortunados o utilizam para obter riqueza e posição social.
O NOME DO JOGO é a tumultuada saga degerações sobre o Sonho Americano e ojogo do casamento para vantagens sociais.
No centro disso tudo está Conrad Arnheim, o herdeiro rude, mulherengo e egoísta do bem-sucedido negócio de vestuários da sua família.
As mulheres que suportaram estar casadas com ele tiveram entrada garantida no mundo da rica sociedade de Manhattan, mas a que preço?
O conflito e o sacrifício sob esse ponto de vista do jogo do casamento cria um conto irresistível e rico em emoções que só mesmo a genialidade e o talento único de Will Eisner seria capaz de conceber. Arte e texto em total harmonia nesta obra escrita e desenhada pelo mestre dos quadrinhos.

                          COMÉDIAS da VIDA PRIVADA
                           Autor: Luís Fernando Veríssimo
Em 'Comédias da vida privada' estão concentradas as situações mais hilárias vividas principalmente pela classe média. É nesse território imenso, opaco, denso e impreciso que circulam os personagens de Verissimo. Seus heróis são anônimos, vivem em ambientes onde transitam a esmagadora maioria dos habitantes deste país. Um universo ao mesmo tempo rico e banal onde o autor se inspirou para produzir as 101 crônicas deste livro. Nelas estão presentes as mesas de bar, as infidelidades, as angústias, o trágico e o cômico combinados na estranha sinfonia do cotidiano.




                                                      1984                                                                   
                                                      Autor: George Orwell

Resenha do livro 1984 de George Orwell
Rafael Calheiros

“1984”, a magnífica obra de George Orwell, escrito em 1948, fala de um mundo dominado pelo socialismo totalitário – reflexo do período pós-guerra quando Orwell, se desiludindo cada vez mais com os rumos do “socialismo” de Stalin, escreveu o livro.
A obra retrata o mundo dividido em três grandes superestados: Eurásia, Lestásia e Oceania. Em uma ou outra aliança, esses três superestados estão em guerra permanente. O objetivo da guerra, contudo, não é vencer o inimigo nem lutar por uma causa, mas manter o poder do grupo dominante.
O enredo, sob a perspectiva da Oceania, mostra como o Estado vigia os indivíduos e mantém um sistema político cuja coesão interna é obtida não só pela opressão da Polícia do Pensamento, mas também pela construção de um idioma totalitário, a Novilíngua, que, quando estivesse completo, tornaria o pensamento das pessoas cada vez mais igual e impediria a expressão de qualquer opinião contrária ao Partido. A idéia do idioma é restringir o maior número possível das palavras, de tal forma que não existiria palavras para expressar oposição ao Partido e ao Big Brother – o Grande Irmão.
A característica principal de “1984”, talvez seja o duplipensar, que consiste basicamente em se ter duas idéias contrárias, opostas, e aceitar ambas como verdade. Essa característica fica evidente quando se conhece os três lemas do Estado: Guerra é Paz; Liberdade é Escravidão; Ignorância é Força.
O duplipensar fica ainda mais evidente quando conhecemos os nomes dos Ministérios: O Ministério da Fartura, que é encarregado de manter a fome para a prole e membros do Partido Externo, ocultando a baixa produtividade e a péssima distribuição de alimentos sob falsas estatísticas; o Ministério da Verdade, onde trabalhava o protagonista da história Winston Smith, que tem o dever de manipular fraudulentamente as notícias, levando os cidadãos à crença somente do que lhes é permitido, mudando constantemente o passado para que o Grande Irmão estivesse sempre certo; o Ministério da Paz, que se ocupa em engendrar a guerra, levantando a estima dos cidadãos com notícias sempre positivas da guerra; e o Ministério do Amor, que reprimia o sexo e estimulava o ódio entre as pessoas, para que o amor se dirigisse apenas ao Grande Irmão. O Ministério do Amor também se encarregava de capturar, torturar, punir, reeducar e vaporizar quem cometesse crimidéia através da Polícia do Pensamento.
O objetivo do Partido era suprimir a individualidade com o propósito de destinar toda a vida dos cidadãos aos seus interesses. Para manter a população entorpecida e influenciada eram freqüentes os eventos com fachadas políticas e patrióticas. Os “Dois minutos do ódio” e as semanas especiais faziam as pessoas esquecerem suas vidas e amar apenas ao Grande Irmão. Aquele que não participasse era acusado de cometer crimidéia – ou idéias ilegais para o Partido, e, portanto um perigo à segurança nacional. O destino para os que fossem acusados de cometer crimidéia era o mesmo: ser vaporizado e virar impessoa, ou seja, o Estado apagaria todos os registros daquela pessoa como se ela nunca tivesse existido. Não tratava apenas de eliminar alguém que cometesse algum crime, mas fazer com que ela nunca tivesse nascido.
Orwell compõe com brilhantismo uma “utopia negativa” onde os cidadãos são vigiados todo o tempo em todo lugar pelas teletelas (aparelhos que transmitem e captam som e imagem) sob a liderança do Partido e do Grande Irmão. Em todos os lares dos membros do Partido, praças, ruas e locais públicos, as teletelas transmitem a ideologia do Partido. Mais do que isso, captam todos os movimentos de seus filiados.
Onipresente, o Grande Irmão é visto em cartazes espalhados por toda a Oceania. Apesar de estar sempre presente, ele jamais apareceu em público. O Grande Irmão talvez não seja uma pessoa real, pois ninguém nunca o viu. Mas oslogan do Partido “O Grande Irmão zela por ti”; seus feitos nas guerras; seu trabalho duro para melhorar a condição de vida do povo da Oceania; e sua liderança firme e constante nas propagandas do Partido, conduz o povo da Oceania a acreditar na sua presença e existência. A eficiência do Partido é maior: faz com que o povo não só acredite na existência do Grande Irmão, mas o ame e o idolatre. Em um mundo onde o Estado domina e nada é de ninguém, mas tudo é de todos, talvez, tudo que reste de privado seja alguns centímetros quadrados no cérebro.
1984 não é apenas mais um livro de política, mas uma metáfora de uma realidade que inexoravelmente estamos construindo. Para exemplificar, invasão de privacidade; avanços tecnológicos que propiciam vigilância total; destruição ou manipulação da memória histórica dos povos; e guerras para assegurar a paz já fazem parte do nosso mundo. Até onde a ciência pode atingir? E até onde um governo pode usar a tecnologia para manter a paz em seu país? A importância de se ler Orwell desperta o leitor para essas questões. Se a nossa realidade global caminhar para o mundo antevisto em 1984, o ser humano não terá nenhuma defesa.




                                           A Menina que Roubava Livros
                                                         Autor : Markus Zusak

Ana Lucia Santana 

Raros autores revelam uma poética tão inteligente, refinada, bem-humorada e sarcástica como Markus Zusak. A poesia que perpassa “A Menina que Roubava Livros” emociona o leitor sem ser piegas, desperta nele tanto alegria como tristeza, tanto revolta, quanto um certo conforto moral. Há muito tempo o escritor pensava em escrever sobre um personagem que furtava livros, mas sua idéia ainda não estava amadurecida. Quando pensou em unir este desejo ao de retratar o que seus pais haviam experimentado na época do Nazismo, nasceu este livro inesquecível.
Markus destaca neste romance a importância das palavras em um dos momentos mais dolorosos já vividos pela Humanidade. Realmente, ao lado da protagonista, Liesel Meminger, e de seu companheiro de aventuras Rudy Steiner, brilham as palavras, personagens especiais deste enredo, sempre no centro da ação, nas entrelinhas ou na tessitura da narrativa. Palavras que constroem e destroem, que Liesel ama e odeia. As cores também se sobressaem nesta história que se passa na época do Nazismo, em plena Alemanha hitleriana, narrada por ninguém menos que a Morte, sob o ponto de vista desta e com seus comentários geniais intercalados à narrativa. Aliás, esta narradora tem um jeito bem peculiar de interpretar as lembranças de Liesel, gravadas em seu diário – na verdade um livro, no qual a menina se reconcilia com as palavras e grava a essência de sua existência -, perdido durante a Guerra e resgatado pela Morte, que o traduz ao leitor.
Para a narradora, não importa saber o que vai ocorrer no final do romance, o mistério suspenso, mas sim o trajeto narrativo e toda a riqueza inerente a ele – os recursos estilísticos, a prosa poética, a magia oculta nas entrelinhas, a emoção e o humor inusitado que se revelam aqui e ali, as surpresas lingüísticas, as tiradas metanarrativas, muitas vezes irônicas, doadas ao leitor pelo autor, através de sua narradora. Desta forma, o escritor questiona a narrativa tradicional, os mecanismos estratégicos que geram e mantêm o suspense, até a solução final do enigma, os quais condicionam a história à resolução deste, desprezando muitas vezes o valor da narração, as riquezas que dela podem ser extraídas. O autor propõe aqui uma valorização do percurso, dos recursos narrativos, da apropriação da linguagem como o próprio núcleo do enredo.

Nesta obra, o autor, através da Morte, tenta provar a si mesmo e ao leitor que a vida, apesar de tudo, vale a pena. Ele se confronta com os fantasmas de seu próprio passado, presentes na trajetória de sua família durante o Nazismo. Reflexões inusitadas, de pura ironia lírica, conquistam os que lêem este romance, desde as primeiras linhas, quando se percebe claramente quem é a contadora desta e de outras histórias, e qual é o seu estilo. Mesmo assim, pode-se dizer que cada etapa da leitura nos surpreende e encanta, até quando acreditamos que o autor já esgotou toda a sua capacidade criativa. Passagens como “As labaredas cor de laranja acenavam para a multidão, à medida que papel e tinta se dissolviam dentro delas. Palavras em chamas eram arrancadas de suas frases”, referentes a uma fogueira de livros proibidos, dão espaço a outras ainda mais poéticas e irônicas. Elas se sucedem na tentativa de transmitir ao leitor o clima perturbador que pairava sobre a Alemanha Nazista.

Os caminhos da Morte e de Liesel Meminger se cruzam três vezes entre 1939 e 1943. Mas Liesel é uma sobrevivente, o que impressiona a ceifadora de vidas. Assim esta, fascinada pela garota, decide narrar sua história, ao se apropriar involuntariamente de seu diário. Esta narrativa é apenas uma entre as que a Morte poderia contar, escolhida no acervo de experiências que ela transporta em si, tentando compreender a natureza humana e a importância de sua existência. Liesel também está em busca do sentido de tudo que vive, em meio à miséria, à morte e à destruição. Nesta cruzada pela compreensão da essência da vida, a garota é guiada pelas palavras, que coincidentemente ou não a perseguem desde sua primeira perda, a do irmãozinho que ela vê morrer a seu lado, em um trem no qual é levada para uma nova vida, não necessariamente desejada por ela. Neste momento, ela se encontra diante da primeira oportunidade de furtar um livro, e é justamente a companhia das histórias que dão à menina, no centro da destruição provocada pela guerra – que oferece à Morte um trabalho redobrado -, um eixo de sustentação e um certo sentido para sua existência.
Todos um dia terão um encontro marcado com a narradora desse livro, mas apenas Liesel Meminger tem o privilégio de ter sua história narrada por ela. Mas também não é qualquer um que sobrevive a uma guerra como esta, vendo tudo e todos desabarem à sua volta, não é qualquer uma que amadurece e permanece viva ao encontrar um propósito maior para sua vida, justamente nas páginas de um livro, ou posteriormente, de um diário. Sim, parece que a Morte, ao contrário de todos os prognósticos, tem coração, e o revela ao escolher a trajetória de Liesel para transmitir ao leitor. Aliás, há muitas passagens em que esta narradora revela seu lirismo, sua ternura, seus cuidados com almas exaustas e envenenadas pela dor e pela crueldade da Guerra, até mesmo sua indignação e revolta com os extremos da desumanidade que atingem os requintes nazistas. Nestes momentos, a Morte, que é uma ótima observadora, percebe reflexos desta ideologia bárbara na própria Natureza, ora na “fuga das próprias nuvens”, ora nos contornos loiros do Sol ou no imenso e assustador “olho azul do ar” que não se consegue mais respirar.
Outras histórias dentro da história aparecem ao longo do enredo – as dos livros roubados pela Menina, as dos que ela ganha em seus aniversários, desde as narrativas inerentes ás obras até as que envolvem seu furto ou a forma como foram presenteados – cigarros trocados por livros, ou histórias escritas e pintadas em um livro como o “Mein Kampf” (“Minha Luta”), de Adolph Hitler. Cada uma destas estórias é um retrato a seu modo da Alemanha Nazista, e enriquece ainda mais a narrativa principal. Cores, desenhos, palavras, livros, aventuras vividas por Liesel e Rudy, amizades construídas sobre a dor, a miséria, a luta pela sobrevivência, como a da garota e seu pai adotivo, Hans, e a da menina com Max, um judeu que cruza sua vida e a marca definitivamente. Desta forma o autor vai tecendo o panorama desta época sombria, compondo seus contornos cada vez mais macabros, mas também permeados por aventuras infantis e sentimentos nobres.


Análise do livro "Primeiras Estórias"
Guimarães Rosa

No início do conto "Famigerado", o narrador pergunta: "Quem pode esperar coisa tão sem pé nem cabeça?". Na verdade, todas as narrativas de Primeiras Estórias, de João Guimarães Rosa, causam essa mesma impressão: acontecimentos inusitados, comportamentos aparentemente inexplicáveis, histórias contadas por meio de uma linguagem fora do comum.

Por trás desses casos "sem pé nem cabeça", parece sempre se esconder um sentido misterioso. Por que o pai de "A Terceira Margem do Rio" decide, de uma hora para outra, mudar-se para uma canoa e lá permanecer até seu desaparecimento? De que forma Nhinhinha, a "Menina de Lá", podia conhecer seu futuro e "encomendar", dias antes de sua morte, um caixãozinho cor-de-rosa? Para desvendar enigmas como esses, deve-se aceitar que a realidade não pode ser explicada unicamente pela lógica racional.

Em Primeiras Estórias, parecem existir "leis" desconhecidas que regem as vidas das personagens, pressupõe-se um "mundo paralelo", metafísico, que influencia a conduta humana. O contato com essas "forças invisíveis" depende de uma sensibilidade aguçada. Por isso muitas das personagens dos contos de Guimarães Rosa são estranhas. "Loucos" (como Darandina ou Tarantão), crianças extremamente sensíveis (como o Menino, de "As Margens da Alegria", ou Brejeirinha, de "A Partida do Audaz Navegante"), apaixonados (como Sionésio, de "Substância"), todos representam seres especiais, que parecem viver em outra dimensão, demonstrando uma sabedoria inata, intuitiva. São, enfim, seres iluminados.

Essa iluminação relaciona-se à teoria platônica da reminiscência. A alma, sendo imortal, teria vivido em contato com o mundo Ideal, o plano da Perfeição. Ao encarnar, a alma guardaria lembranças difusas, inconscientes, desse mundo "bom, belo e verdadeiro", para o qual deseja profundamente retornar. Algumas experiências no plano terreno teriam o poder de despertar na alma o gosto da Perfeição, possibilitando uma "redescoberta" de uma alegria até então adormecida.

Esses momentos de epifania, reveladores de uma Verdade oculta, transformam a vida das personagens. Nesse sentido, o encontro com o belo, o desejo de livrar-se do peso da matéria, o sentimento amoroso são situações de aprendizado: libertam a alma das impurezas da vida e levam o ser humano a uma condição "superior", mesmo que não tenha plena consciência disso. Como se diz em "Nenhum, Nenhuma", "a gente cresce sempre, sem saber para onde".

Ficha
§  O autor
João Guimarães Rosa nasceu em 1908, em Minas Gerais. Enquanto trabalhava como médico no interior, registrava o que ouvia e via: expressões, anedotas, versos, tipos humanos. Essas anotações foram amplamente usadas em sua obra.
§  A obra
Publicado em 1962, seis anos depois do romance Grande sertão: veredas,Primeiras estórias consta de 21 contos.
§  Linguagem
Destaque da literatura de Rosa, a linguagem é marcada por forte originalidade. Alia a informalidade da linguagem coloquial à complexidade da linguagem poética. O tom é variado: ora sério (lírico ou dramático), ora cômico.

§  Temas
Sentido oculto da existência, crescimento espiritual por meio de experiências amorosas, vida como aprendizado, sensibilidade extraordinária manifestando-se pela loucura e pela ingenuidade infantil, vida como predestinação, limites entre bem e mal.


A Revolução dos Bichos
George Orwell

O sonho de um velho porco de criar uma granja governada por animais, sem a exploração dos homens, concretiza-se com uma revolução. Como acontecem com as revoluções, a dos bichos também está fadada à tirania, com a ascensão de uma nova casta ao poder. Nesta fábula feita sob medida para a Revolução Russa, todos os animais são iguais, mas uns são mais iguais do que os outros.
Síntese Num belo dia, os animais da fazenda do sr. Jones se dão conta da vida indigna a que são submetidos: eles se matam de trabalhar para os homens, lhes dão todas as suas energias em troca de uma ração miserável, para ao final serem abatidos sem piedade. Liderados por um grupo de porcos, os bichos então expulsam o fazendeiro de sua propriedade e pretendem fazer dela um Estado em que todos serão iguais.
Logo começam as disputas internas, as perseguições e a exploração do bicho pelo bicho, que farão da granja um arremedo grotesco da sociedade humana.
Publicada em 1945, A Revolução dos Bichos foi imediatamente interpretada como uma fábula satírica sobre os descaminhos da Revolução Russa, chegando a ter sido utilizada pela propaganda anticomunista.
A novela de George Orwell de fato fazia uma dura crítica ao totalitarismo soviético; mas seu sentido transcende amplamente o contexto do regime stalinista.
Mais do que nunca esta pequena obra-prima da ficção inglesa parece falar aos nossos dias, quando a concentração de poder e de riquezas, a manipulação da informação e as desigualdades sociais parecem atingir um ápice histórico.

http://vestibular.uol.com.br/resumos-de-livros/a-revolucao-dos-bichos.htm


“Kafka e a boneca viajante”de Jordi Sierra i Fabra


Em 2007 o Ministério da Cultura da Espanha deu a esse livro, Kafka e a boneca viajante, o Prêmio Nacional de Literatura Infantil e Juvenil. Desde então a publicação tem recebido atenção não só do público infanto-juvenil, mas sobretudo do leitor maduro, aquele que também sonha com um lado suave do escritor checo Franz Kafka, conhecido por obras angustiantes, de cunho surrealista como A metamorfose e O processo. A razão é simples não conhecemos toda a obra de Kafka, mesmo ele tendo morrido aos 40 anos em 1924.


Há ainda manuscritos de Kafka que não foram destruídos após sua morte, como o escritor havia instruído seu testamenteiro Max Brod. A ordem foi, na verdade, prontamente desobedecida. E alguns livros publicados. Mas nem todos. Estima-se que haja centenas de obras acabadas ou não, sem publicação. Hoje, são fruto de uma interminável batalha entre as atuais herdeiras e o estado de Israel. Além disso, Kafka, que era conhecido por muitos casos românticos, deixou em poder de sua última amante uma série de cadernos e cartas que foram confiscados pela Gestapo. Tudo isso suscitou através de décadas muitas teorias fantasiosas sobre o que restou. Entre elas estariam algumas cartas que Kafka escreveu de consolo a uma menina que ele encontrou chorando, num parque de Berlim. Ela estava triste com a perda de sua boneca. Essas cartas, que nunca foram encontradas, fazem parte das lendas do remanescente legado do escritor. Baseando-se neste causo romântico Jordi Sierra i Fabra escreveu a deliciosa e lírica narrativa de Kafka e a boneca viajante.

Firmemente apoiado nos relatos de Dora Diamant, última companheira de Kafka, que mencionou a existência das cartas, o autor tece uma história comovente, criativa e delicada de um “carteiro de bonecas” que recebe e lê as cartas que Brígida, a boneca fujona escreve para Elsi, a menina inconformada, de diversos lugares do mundo.

Jordi Sierra i Fabra entrelaça dados conhecidos da vida de Franz Kafka com o romance das cartas e o resultado é uma obra fina, sutil, sensível e agradável. Um relato em que o jovem leitor aprende um tantinho sobre o autor checo e pode se encantar com a história de Brígida.

A obra ganha muito com as ricas ilustrações de Pep Monserrat.